Divino Tserewahú

O grande pioneiro do cinema indígena no Brasil

Nosso homenageado é o grande pioneiro no cinema indígena no Brasil e um dos maiores realizadores deste tipo de produção, além de líder comunitário do povo Xavante. Divino Tserewahú nasceu em 1974 na aldeia Sangradouro, no estado de Mato Grosso. Inicia sua carreira seguindo o trabalho iniciado por seu irmão e começa a aprender sobre captação audiovisual ainda em 1990, quando a comunidade Xavante de Sangradouro recebeu sua primeira câmera de filmagem em VHS, e não para mais. A partir daí, começa com suas produções e seus belíssimos registros de cerimoniais e festas para o público restrito da aldeia.

Em 1995 participou da equipe de produção do Programa Índio, primeiro programa indígena televisionado no Brasil, a série foi produzida pelo Projeto Vídeo nas Aldeias em colaboração com a emissora de televisão da Universidade de Mato Grosso. Em 1997, Divino participou da primeira oficina de formação de cineastas indígenas do Brasil, organizado pelo Projeto Vídeo nas Aldeias, realizado em sua aldeia Sangradouro. O primeiro trabalho individual de Tserewahú para um público não xavante foi Heparí Idub’radá / Obrigado, irmão (1998), no qual ele descreve, com muita sensibilidade, o caminho que o levou a se tornar um cineasta.

Tserewahú foi o líder da equipe que dirigiu Wapté Mnhono, A Iniciação Xavante (1999), que ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Festival Internacional de Filmes Etnográficos de Nuoro, na Itália. Já entre 2001 e 2002, também por intermédio do Projeto Vídeo nas Aldeias de Vincent Carelli, seu grande parceiro, consegue uma vaga para estudar na Escola Internacional de Cinema de San António de Los Baños, em Cuba, onde se aperferçoa em técnicas de edição, de roteiro de documentário e de ficção, além de animação.

Desde então, Tserewahú faz inúmeros documentários e viaja por vários países para apresentar seu lindo trabalho, em programas como o Video Amazonia Indigena: A View from the Villages em Nova York e Washington, DC em 2008 e no Skábmagovat Film Festival de 2002, um festival produzido por Sámi festival de cinema em Ivalo, Finlândia.

O seu belíssimo longa-metragem Wai’a Rini, O Poder do Sonho (2001) venceu o Festival de Cinema e Vídeo das Primeiras Nações 2001 de Abya Yala, no Equador e o Prêmio Anaconda de 2002, um prêmio selecionado por pessoas de várias regiões da Amazônia. Logo em seguida realiza, a pedidos de parentes de outras aldeias, o média-metragem Daritidzé, Aprendiz de Curador (2003), inspirado em Wai´a rini descrevendo o cerimonial do Wai´á, no qual os jovens são iniciados ao mundo espiritual para desenvolver o seu poder de cura, desta vez Tserewahú vai filmar numa aldeia que não é a sua, aumentando ainda mais sua experiência enquanto realizador.

Em 2009 foi um dos líderes de workshop do Projeto Vídeo nas Aldeias no Festival de Cinema Etnográfico do Rio de Janeiro. Um dos trabalhos mais recentes de Tserewahú, Pi’õnhitsi: Mulheres Xavánte sem Nome (2009), co-dirigido com Tiago Campos Torres, ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival do Filme Etnográfico do Recife em 2010, no Brasil. Tsõ’rehipãri / Sangradouro (2009), co-dirigido com Amandine Goisbault e Tiago C ampos Torres, ganhou o prêmio Cameras de la diversidad do Festival dos Primeiros Povos 2010 em Montreal.

Ele ainda mora em Sangradouro, com a família, e trabalha na Universidade Católica Dom Bosco como Diretor de Comunicação do Museu das Culturas Dom Bosco e colaborador da Missão Salesianos.

“Há trinta anos, Divino abriu uma picada que hoje vemos se alargar e alcançar horizontes até então inimagináveis. Os filmes realizados por cineastas e coletivos indígenas no Brasil têm contribuído para ampliar o imaginário pobre, duro e restrito que herdamos sobre os povos ameríndios, e do qual custosamente tentamos nos desvencilhar. O trabalho de Tserewahú vem inspirando assim novas gerações de realizadores e realizadoras indígenas no combate aos estereótipos e preconceitos que abundam no olhar 'waradzu' (não indígena). Mas é no interior da aldeia Xavante que o cinema de Divino ganha sentidos radicalmente outros. Mais do que um repositório de imagens dos rituais e de conhecimentos dos anciãos e seus ancestrais, os filmes e as exibições que Tserewahú realiza junto à sua comunidade parecem inventar novas formas da memória, para as quais o mundo Xavante não acaba nunca – Tserepsté talvez não imaginasse que ele e seu neto sonhariam o mesmo sonho” (Bernard Belisário)

Por suas produções e sua trajetória pioneira e importantíssima na história do cinema indígena no Brasil, têm sido objeto de várias pesquisas (artigos, teses e dissertações) em universidades e instituições brasileiras e estrangeiras. Ele segue em com seus trabalhos de produção audiovisual e de resistência, inspirando as novas gerações de cineastas indígenas e não indígenas do Brasil.

III FFEP